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Interseções – Filosofia e Cidade

O PET_ Filosofia, da Fafich, está organizando o Interseções – Filosofia e Cidade, que terá três mesas bacanas:

29/05 – ARTE E INTERVENÇÃO URBANA
Renata Cabral e Igor Leal (Coletivo Paisagens Urbanas)
Paulo Rocha (Filosofia – UFMG e Coletivo [conjunto vazio])

30/05 – LITERATURA E COTIDIANO
Romero Freitas (Filosofia – UFOP)
Roberto Said (Letras – UFMG)

31/05 – URBANISMO E POLÍTICA SOCIAL
Ana Paula Baltazar (Arquitetura – UFMG)
Ana Lúcia Modesto (Sociologia/Antropologia – UFMG)

14:00
Auditório Baesse – FAFICH/UFMG

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Apropriação e construção de práticas comunicativas nos espaço dos coletivos urbanos

Larissa Flores

Para o autor Michel de Certeau, a cidade deve ser um espaço de possibilidades, de práticas singulares e plurais. São essas práticas cotidianas, muitas vezes reprimidas ou banalizadas no planejamento das cidades, que constituem a vida urbana e tornam a cidade humanizada, viva. Se por um lado a cidade planejada ou cidade-conceito prescreve, por meio da estruturação dos espaços, como os habitantes devem agir, por outro lado, os habitantes extrapolam as regras, criam novas formas de viver a cidade, tornando-a uma “cidade dos caminhantes”.Essa cidade foge às representações, se modifica a todo instante, nunca será lida da mesma maneira. Isso acontece porque são as pessoas que constroem a cidade: elas decidem como interagir com o espaço, como dar significados a ele, como estabelecer práticas comunicativas dentro dele. Nesse sentido, os espaços públicos (que tem como princípio ser espaço para a coletividade)são tomados de formas diferentes por aqueles que o vivenciam. Cada habitante, portanto cria relações particulares com o ambiente público.

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Som e complexidade urbana: apontamentos a partir de uma visão sistêmica das sonoridades do comércio popular no Hipercentro de Belo Horizonte

TEXTO: FRANCO, J. MARRA, P. S. “Som e complexidade urbana: apontamentos a partir de uma visão sistêmica das sonoridades do comércio popular no Hipercentro de Belo Horizonte”

O texto em questão faz parte do projeto “ Cartografias Urbanas”, vinculado ao centro de convergência de Novas Mídias da UFMG. O objeto de estudo nesse caso são os sons relacionados aso comercio no Hipercentro de BH.

Para entender melhor esses sons da cidade, assim como a própria cidade e os fluxos de comunicação desses espaço, é preciso observar toda sua complexidade. Franco e Marra citam a complexidade da realidade. Eles tratam a cidade como um sistema cujas propriedades estão integradas e se relacionando.

“A perspectiva sistêmica permite abordar a complexidade urbana de maneira que a Cidade seja compreendida como um sistema marcado pela auto-organização, a não-linearidade, e pela imprevisibilidade, com os fluxos comunicativos desempenhando papel importante nesse processo, desmitificando a idéia de que as cidades seriam desordenadas e necessitariam de uma ‘intervenção institucional’ que fundamentalmente garantisse um espaço urbano ordenado.”

Por isso é importante observar os espaços urbanos por dentro, não como num panorama, mas caminhando pelas ruas e observando as interações que constroem a cidade, não apenas no sentido físico, mas cada marca simbólica gerada por seus componentes.

Também é importante considerar a complexidade dos sons da cidade. A altura, a intensidade e o timbre não são as únicas características que fazem parte de qualquer questão sonora. Não escutamos nenhum som isoladamente. Nossos ouvidos captam a todo momento diversos sons que geram sentimentos e sensações complexas. E nessa escuta de diferentes sons que percebemos o ritmo.

Lefebvre afirma que sempre que há interações entre lugar, tempo e dispêndio de energia, existe ali ritmo.

Para que haja mudança, um grupo social, uma classe ou uma casta devem intervir por meio da impressão do ritmo em uma era, seja pela força ou de uma maneira insinuante.” (LEFEBVRE, 2004, p.14)

Dessa forma, o espaço urbano também pode ser conhecido pelos seus diversos sons – sempre em relação uns com os outros – criando uma especie de sonoridade urbana. Essa sonoridade expressa o ritmo das vidas nas ruas da cidade.

Entre os anos de 2003 e2009, o projeto Cartografias Urbanas, realizou estudos em Belo Horizonte com um procedimento próximo à Teoria da Deriva dos situacionistas. Nesse caso foram determinados percursos e todo o caminho foram feitos registros sonoros (também fotográficos, em vídeo e cadernos de camo, mas não se aplica a este estudo).

O estudo se detém aos pregões de vendedores ambulantes e anuncio de lojas.

A escolha pelos pregões deve-se ao fato de procurarmos, ao pensarmos o espaço urbano, práticas à margem dos processos sociais e políticos hegemônicos e que são na maioria das vezes desconsideradas pelo poder público por serem banais e fragmentadas, mas que de alguma forma ordenam e são ordenadas pela maneira de viver urbana. (…) Uma das hipóteses é a de que através das sonoridades podemos capturar práticas cotidianas comuns através das quais o espaço da cidade é ocupado e negociado.”

 A partir das derivas percebeu-se que os pregões, que pareciam aleatórios apresentou padrões que emergiam das relações entre os pregoeiros e o ambiente.

O estudo foi estruturado em três sistemas: o primeiro composto pelos pregoeiros de serviços de cabeleireiro, venda de celular e avaliação dos metais preciosos na Praça Sete; o segundo compreendia os vendedores de loteria na rua da Bahia (entre Afonso Pena e a rua Goiás); o terceiro são os anunciantes das lojas populares da Avenida Paraná.

Dentro desses sistemas é importante perceber alguns parâmetros fundamentais e outros evolutivos como a necessidade de permanecer naquele espaço. Nesse caso a permanência é determinada pela capacidade de vender. Outro parâmetro fundamental é o ambiente. No quarteirão fechado da Praça Sete do sistema 1 apresenta pouca circulação de carros, e uma circulação enorme de pedestres. O sistema 2 tem um fluxo maior de veículos e uma circulação média de pessoas. Já o sistema três em pouca circulação de pedestres e uma intensa circulação de veículos, principalmente ônibus.

Também é preciso verificar outros parâmetros como a capacidade de se adaptar ao ambiente, a composição desse sistema, como os elementos desse sistema se relacionam e a estrutura sobre as quais essas relações se estabelecem. Esses parâmetros que levam a uma espécie de auto-organização do espaço urbano. Eles que fazem com que os pregões não são aleatórios.

No sistema 1, as informações são dadas de forma fática e repetitiva. Uma frase curta que se limita a especificar o serviço oferecido e repetida sem parar como se quisesse atingir cada um dos pedestres que chegam e saem daquele espaço aca da instante. Não se fala muito alto para que não se confunda com o pregão de outros pregoeiros.

No sistema 2, os vendedores de loteria (a maioria deficiente visual), ficam mais distantes uns dos outros e precisam atingir pedestres que passam com menos frequência. Por causa disso eles se fazem escutar por cerca de 50 metros e usam textos mais longos, com mais informações. Conhecem a dinâmica do transito no Hipercentro, gritam entre o barulho de um e outro carro.

No sistema 3, agem como num rádio, conversando com os poucos passantes, e muitos usuários parados nos pontos de ônibus. Eles usam caixas de som para sobrepor sua voz aos demais barulhos da rua, principalmente dos coletivos que cruzam aquela importante via. Sempre ao som de uma música popular, os locutores conversam com os passantes, quem está esperando o ônibus e até os locutores das lojas vizinhas.

Assim os sons co comércio do Hipercentro formam uma espécie de mapa da região. Eles se regulam e variam de acordo com o ambiente.

Yolanda Assunção

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